JB_A Garota de Copacabana-1 (2).jpg
FOLHA DE SP_Ruy Castro_jan2019.png
Encontros de Domingo: Amanda Bravo - Jornal O Globo

Encontros de Domingo: Amanda Bravo

Filha do compositor Durval Ferreira, artista e produtora revitalizou as famosas casas de Copacabana onde brilharam talentos como Elis Regina e João Donato. Agora, ela quer ganhar o mundo

por

Amanda Bravo com o violão do pai: ela atualmente prepara um disco só com músicas inéditas de Durval Ferreira - Custódio Coimbra / Agência O Globo

RIO - Quem passa pela Rua Duvivier, em Copacabana, pode nem reparar na viela à esquerda, testemunha de um dos momentos mais importantes da cena musical brasileira. Do número 21 a 37, as casas de show Bottle’s Bar, Little Club e Bacará compõem o Beco das Garrafas, cenário onde artistas e intelectuais bateram ponto durante a década de 1950 e início dos anos 1960. Até que, a partir de 1966, a progressiva degradação da área afastou do local a música de Leny Andrade, João Donato, Elis Regina e tantas outras estrelas. O lugar foi tomado por inferninhos e bordéis. Desde 2014, porém, a história vem sofrendo uma reviravolta: o espaço deixou de abrigar vedetes e strippers e retomou sua vocação original: atualmente, recebe talentos da antiga, da nova e da novíssima geração da bossa nova. E isso, em grande parte, graças ao esforço da produtora Amanda Bravo.

Os olhos verdes cheios de determinação revelam uma sonhadora que ao mesmo tempo tem os pés no chão. Aos 40 anos, Amanda já fez de tudo um pouco: formou-se em marketing e enveredou pelo teatro, onde atuou como atriz, produtora e diretora. Para sobreviver, vendeu joias e trabalhou em loja. Hoje, é cantora e comanda a Beco das Garrafas Produções.

— O sonho de muita gente era reativar o beco. Já fiz de tudo na vida e tive que fazer de tudo para reabrir as casas. Passei chapéu entre os amigos, pintei parede, carreguei galão de água, fui técnica de luz. O Little deixou de ser boate, e o Bacará foi incorporado ao Bottle’s. Não dá para pensar muito, senão a gente não faz — afirma.

Filha do compositor Durval Ferreira, autor de clássicos da bossa nova como “Estamos aí” e “Tristeza de nós dois”, ela cresceu cercada de melodias.

— Minha mãe compõe, minha avó paterna tocava bandolim, meu tio era seresteiro, uma prima teve uma escola de música, outro toca comigo… Nossas reuniões familiares sempre foram banhados de ritmo — conta ela, que lembra ainda os shows que fazia para os amigos do pai. — Eram nomes como Leny Andrade e Emílio Santiago. E eu me apresentava para eles! Ia ser artista de qualquer jeito.

O carinho é retribuído.

— Amanda é como uma sobrinha — diz a cantora Leny Andrade. — Eu a conheci ainda na barriga da mãe, e hoje só tenho a agradecer por ela ter tomado as rédeas do beco. Agarrou aquele touro a unha e hoje faz daquele lugar a continuação da casa dela. Sempre que puder, cantarei lá.

Durval Ferreira morreu no dia 17 de junho de 2007, vítima de câncer.

— Depois da morte do meu pai, a música me chamou. Trabalhava com marketing, mas passava meus dias pesquisando canções desconhecidas. Nasci para produzir, mas o que amo é cantar — conta ela, que não deixa o violão do pai silenciar: é o instrumento que usa para se acompanhar.

A união entre marketing e música para reativar o beco rendeu-lhe o Prêmio Noite Rio, em 2014.

— Apesar do reconhecimento, meu pai nunca teve uma vida fácil. Ele morreu aos 72 anos, trabalhando muito. Por isso, fiz faculdade, para ter uma vida melhor. Mas acabei voltando à música, e hoje o marketing me ajuda. O artista não pode mais se dar ao luxo de só cantar.

Para o compositor Roberto Menescal, Amanda faz jus ao sobrenome:

— Só com muita bravura para fazer o que ela faz. O beco é, para ela, mais que um negócio. Tinha que ser filha do Durval. Ainda mais com aqueles olhos verdes como os dele. O apelido dele era gato. Ela é a gatinha.

O Bravo foi herdado da avó materna, artista também chamada Amanda. A produtora, aliás, é Amanda Glória, assim batizada por ter nascido em 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Glória.

Solteira, ela espera encontrar a pessoa certa e formar família. Enquanto isso, gesta um disco com músicas inéditas do pai. E quer tornar o Beco das Garrafas uma franquia internacional.

— Quero levar a música brasileira para o mundo. A bossa nova, o samba jazz e o sambalanço precisam ser ouvidos. Isso aqui é o começo. Quero ver o Bottle’s em Paris, Nova York e Japão. Devo isso ao mundo e à música.

Newsletter

As principais notícias do dia no seu e-mail.

Já recebe a newsletter diária? Veja mais opções.

Captcha

TROCAR IMAGEM

Quase pronto...

Acesse sua caixa de e-mail e confirme sua inscrição para começar a receber nossa newsletter.

Ocorreu um erro.
Tente novamente mais tarde.
Email inválido. {{mensagemErro}}